Passei a última semana ocupada demais com o cotidiano. Nada de extraordinário — pelo contrário. Foi a soma de pequenos causos do dia, misturados com as tais externidades que entram em nossa casa mesmo quando não as buscamos.
E por externidades, falo principalmente das notícias. Aquelas que, sinceramente, eu poderia ter vivido muito bem sem saber, mas que insistem em aparecer na tela do meu celular, entre os aplicativos por onde circulo. Vivo na contemporaneidade — e nós, sujeitas do nosso tempo, estamos à mercê de uma enxurrada de conteúdos que não necessariamente escolhemos. Faz parte do pacote 2025: internet, redes sociais, bebês reborn e Virgínias Fonsecas.
Sim, tudo no plural. Porque não são apenas bonecas ou pessoas — são quase conceitos.
Sobre os bebês reborn, confesso que não tenho opinião formada sobre esse fenômeno e nem acho que tenha que ter. Tenho apenas a convicção de que não correrei o risco de adotar um. Já sobre a Virgínia Fonseca, até hoje não compreendi por que milhões de pessoas sabem quem ela é. E mesmo assim, reconheço: tudo isso tem impacto. Esses temas, mesmo quando não nos interessam, moldam o espaço que ocupam. Subimos a cortina e aplaudimos. “Nós” — não necessariamente eu ou você, mas o coletivo. As maiorias midiáticas.
E entre esses ruídos e as miudezas dos meus próprios dias, me vi absorvida. Usei meu tempo mais para ler, me informar, me desinformar — do que para escrever. Produzi menos que o habitual.
Houve épocas em que isso me angustiaria. Essa baixa produtividade, às vezes, me faz duvidar da minha capacidade de trabalho. Mas agora não. Agora penso em continuidades.
Não é possível manter o mesmo ritmo o tempo inteiro. Há tempo para tudo. Inclusive para ter tempo. Quem pratica esportes com frequência, como eu, sabe que existem ciclos: treinos fortes, treinos leves, pausas. Reconhecemos a importância dos dias intensos, mas também dos dias de recuperação. É esse jogo de equilíbrio que permite a constância.
Hoje, uma segunda-feira — o dia da semana em que, há mais de um ano, publico textos por aqui como um exercício de pensamento e escrita — acordei com nada. Sem ideia, sem frase de partida, sem palavra que puxasse o fio. Pela primeira vez em um ano e dois meses, achei que não escreveria.
Pensei em decretar uma pausa. Saí para correr, levei minha filha à escola, tomei café da manhã… e segui com essa decisão.
Mas então sentei em frente ao computador e me lembrei de uma conversa recente. Uma mulher na rua me perguntou o que faço para me manter em forma, e eu respondi com algo simples: dia após dia. Repetição. Constância.
Talvez este texto esteja aquém. Talvez não diga nada que transforme o dia de ninguém. Mas ele existe. E isso basta.
Também hoje não tive vontade de correr. Mas corri.
E escrevo.
Porque, para manter alguma ordem no caos, bem ou mal, é preciso continuar.
Carina.